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Treinamentos de habilidades não substituem ensino superior, defende George D. Kuh

Professor emérito da Universidade de Indiana (EUA) defende que o ataque ao ensino superior de bacharelado ameaça o desenvolvimento social e até à democracia

ensino superior © - Shutterstock
por Redação janeiro 27, 2022
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O professor emérito da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, George D. Kuh, é categórico ao afirmar que o estímulo às graduações de curto prazo – aqui no Brasil esses cursos são chamados de tecnólogos – é um erro para o futuro. O especialista, que é coautor do livro “Using Evidence of Student Learning to Improve Higher Education” publicou recentemente um artigo na Harvard Business Review avaliando a educação superior dos Estados Unidos.

George D. Kuh defende que, abreviar os programas de graduação em busca de ampliar a força de trabalho para o agora, é um erro para o futuro. Segundo ele, essa opção pode reduzir custos de curto prazo para os estudantes, instituições de ensino e empregadores. Porém, a longo prazo é ruim para os indivíduos e para a democracia, já que mitiga experiências educacionais exigentes que, geralmente, resultam em desenvolvimento intelectual, pessoal e social. “E isso é base para a aprendizagem contínua ao longo da vida”, aponta ele.

Mídia e empregadores atacam ensino superior, segundo professor

Em seu artigo, o especialista diz que a grande parte da mídia norte-americana assumiu postura de que é preciso reformular a maneira como se formam profissionais. Ele atribui essa onda a um certo “fracasso” do ensino superior nas universidades dos EUA em preparar pessoas para o ambiente de trabalho do século XXI. “Isso é equivocado, na minha opinião”, diz.

O foco proposto atualmente é em habilidades vocacionais, marginalizando naturalmente os conhecimentos gerais como história, culturas mundiais e até mesmo a capacidade de elaborar uma prosa compreensível e de julgar a veracidade e a utilidade de informações. “É óbvio que programas baseados em habilidades profissionais, mesmo de curta duração, são importantes e adequados para muitas pessoas. Mas essa não é uma escolha política aceitável para atender às demandas do trabalho do século XXI, principalmente em contraponto às deficiências do ensino superior americano neste momento”, escreveu ele.

Segundo George D. Kuh, é sabido há décadas que não há atalhos para cultivar os hábitos da mente e do coração no que tange o aprofundamento do aprendizado. Isso culmina no desenvolvimento de resiliência e na manipulação criativa de ideias, com abordagens coerentes. 

A pesquisa educacional mostra a importância de preparar as pessoas para o trabalho autossuficiente, civicamente responsável e pessoalmente satisfatório.

O especialista lembra que essas proficiências necessárias para a descoberta de propostas alternativas aos desafios do mercado de trabalho que, mais do que nunca, passam por mutação acelerada. “Os locais de trabalho, instituições sociais e toda a ordem mundial fica cada vez mais complicada e desafiadora, aumentando a necessidade de profissionais com sabedoria acumulada, competência interpessoal e prática, além de raciocínio analítico e altruísmo”, defendeu.

Ensino acadêmico deve ser aprimorado e não substituído

Em busca de caminhos mais curtos, ele diz que empregadores têm se apoiado em certificados de cursos de curta duração, emulando uma suposta proficiência dos profissionais. O professor avalia que a justificativa para isso se dá com cada vez mais líderes empresariais lamentando o nível de candidatos bacharelados despreparados. 

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Como contraponto, o professor diz que se esse problema ocorre com bacharelados, é possível prever o quão maior ele é com os que fizeram cursos de curta duração. “É antagônico que, ao mesmo tempo, muitos líderes empresariais dizem preferir candidatos que não só podem fazer o trabalho de hoje, mas que poderão continuar aprendendo sozinhos para fazer o trabalho de amanhã. Então eu pergunto: há certificado para habilitar trabalhos que ainda nem foram inventados?”, ironiza ele. “Precisamos que os líderes empresariais falem com frequência e consistência sobre os perigos disso. A pesquisa educacional mostra a importância de preparar as pessoas para o trabalho autossuficiente, civicamente responsável e pessoalmente satisfatório”, completou.

Considerando os problemas das universidades, ele propõe atuação para reduzi-los. Uma delas é o aumento de atividades práticas nas grades curriculares. “Quando as instituições induzem os alunos a participar de atividades de aprendizado de alto impacto – como cursos intensivos, pesquisas de graduação, projetos e serviços comunitários e estágios – os resultados são comparativamente muito melhores do que os obtidos por alunos que não têm essa experiência”.




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