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O futuro é feminino, preto, LGBTQIA+, PCD e, portanto, inovador, mostra AAA Summit

AAA Summit, em São Paulo, mostra como o ESG, com foco na pluralidade, é essencial para a Inovação e o futuro das pessoas e organizações

AAA Summit © - Shutterstock
por Redação maio 23, 2022
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As empresas com ações ESG, principalmente com foco em inclusão e diversidade, são mais inovadoras e por isso faturam mais e estão mais perto do futuro. E o futuro já é agora, com protagonismo feminino, preto, LGBTQIA+, PCD e de demais grupos sub-representados. É o que mostraram especialistas durante o AAA Summit – festival de inovação realizado na Faculdade Belas Artes (SP) nestes 21 e 22 de maio, com apoio da Fundação Dom Cabral.

As conexões para essa conclusão são complexas, mas cada vez mais transparentes, como apurou o Seja Relevante. E elas começam com o ESG posicionado no centro das decisões corporativas e de governos. “O mundo chegará a 9,5 bilhões de habitantes até 2050 e nós consumiremos uma vez e meia os recursos que o planeta é capaz de prover atualmente. Precisamos, portanto, avançar com muito mais velocidade”, resumiu Mary Ballesta, diretora global de Inovação e Digital da Stefanini. 

ESG, diversidade e Inovação

A urgência do ESG está aparente tanto no aumento de desastres naturais, gerando altos custos sociais (inclusive mortes) e financeiros, quanto nos casos de pluralidade capazes de elevar receitas e alavancar negócios para organizações, como este texto trará a seguir.

No aspecto ambiental, apenas nos Estados Unidos a quantidade de desastres naturais subiu de 16 para 20 no ano passado. O número vem crescendo ano a ano e a projeção é que assim continue, caso não haja uma mudança significativa na pegada de carbono. “Os desastres naturais custaram mais de US$ 104 bilhões aos norte-americanos no ano passado”, destacou Mary.

mary balesta
Mary Ballesta, Grupo Stefanini

Este é um dos motivos pelos quais as corporações que não se voltaram ao ESG estão perdendo mercados e aportes. “A economia do stakeholder tem o cliente final cobrando cada vez mais a pauta ESG das empresas”, pontuou. “Isso é mais nítido entre os jovens, que estão dispostos a pagar mais por produtos adequados às agendas ESG, segundo pesquisa da Mckinsey”, completou.

Financeiramente, os investidores são impactados por essas pressões e assim privilegiam aportes nas organizações com avanços ESG. “As ESG Techs receberam mais de US$ 500 milhões em investimentos no ano passado, de acordo com pesquisa do Distrito, por exemplo. E o mais interessante é que quase 70% delas eram direcionadas ao social”, disse Mary.

AAA Sumit mostra que o social inova

Gustavo Glasser, fundador da plataforma de software as a service Carambola, conhece bem os avanços que a inclusão e a diversidade podem promover aos negócios. Depois de vencer as barreiras encontradas pela sua transexualidade e se tornar programador de softwares e gestor de alto nível, ele percebeu que a falta de mão de obra no setor de tecnologia poderia ser atacada com a inclusão de mais pessoas como ele e de outros grupos sub-representados nas organizações.

A metodologia da Carambola é de formar e remunerar profissionais LGBTQIA+, negros e mulheres das periferias, já com remuneração garantida pelas empresas que irão absorvê-los no mercado de trabalho. “Descobri que a ideia de que era difícil formar profissionais de periferia, devido à qualidade da formação básica, era falaciosa”, disse ele em apresentação no AAA Summit.

Depois, ao procurar a ineficiência dentro das companhias – e assim buscar formar os profissionais que já estavam lá – Gustavo entendeu que era mais difícil educar os “educados” do que os iniciantes, de grupos minorizados. 

O passo seguinte foi levantar métricas de eficiência, quando Gustavo validou que os profissionais de grupos sub-representados formados pela metodologia da Carambola eram 20% mais ágeis do que os das companhias.

Agora, ele se dedica a mostrar ao mercado que é preciso mudar os modelos de contratações, geralmente voltados a competências, para modelos inclusivos e abundantes. “Estamos deixando claro que competência se compra. As organizações podem começar a se posicionar como empresas educadoras e atacar massivamente a questão da diversidade, portanto”, disse.

Ele explica que essa atitude é vantajosa tanto para a inclusão social quanto para reverter a escassez de profissionais no mercado de tecnologia. “As empresas precisam mudar esse modelo de contratar só pessoas com as mesmas características”, resumiu.

Em outra esfera, é o que também demonstra Júlio Beltrão, head artístico da Mynd, uma das grandes agências de marketing de influência e entretenimento do Brasil. “Apenas com uma inserção da campanha com o Gil do Vigor (preto e homossexual) no intervalo do Fantástico, o Santander conquistou 80 mil novos cadastros para cartão de crédito, deixando mais do que demonstrado o poder da diversidade nos negócios”, disse.

“O seu comercial de TV não me engana”

Júlio ampliou a reflexão ao pontuar que os ambientes plurais aumentam as condições de tomadas de decisão coerentes, além de espelharem melhor a sociedade. “Quando acontece um problema racial relacionado à marca e não há negros no board, por exemplo, fica muito mais difícil chegar a uma decisão coerente para a organização”, exemplificou.

Júlio Beltrão, Mynd

A sociedade e os consumidores também querem se ver representados nos meios de comunicação, assim como nas empresas. “Por isso a campanha do Gil do Vigor lacrou. E quem lacra, lucra”, brincou ele.

A música Capítulo 4, Versículo 3, para Júlio, integra uma “bíblia” do gueto, que é o álbum Sobrevivendo No Inferno, dos Racionais MCs, validando, desde os anos 1990, que os consumidores não estão mais dispostos a comprar de marcas que não os representam. O trecho da música que ele citou é: “O seu comercial de TV não me engana”. 

Grazi Mendes, head de diversidade, equidade e inclusão na ThoughtWorks, lembrou que 75% dos novos talentos dizem não querer trabalhar em empresas não plurais. Os novos talentos, portanto, se juntam aos consumidores e demais stakeholders, assim como os investidores, pressionados por esses grupos, para formar uma corrente potente a favor da pluralidade nas organizações. 

Para Lisiane Lemos, gerente de recrutamento do Programa de Diversidade, Equidade e Inclusão do Google para a América Latina, o processo é positivo ao ponto que, mesmo quando as lideranças não estão comprometidas com a diversidade, os movimentos externos sobre os negócios as pressionam a adotar ações inclusivas. “Não é o que esperamos, mas, se [essa pressão] for para o bem maior da pluralidade, que assim seja”, disse. 

Lisiane Lemos, do Google, e Grazi Mendes, da ThoughtWorks.

Segundo ela, muitas empresas pressupõem ser inclusivas, mas não são. “É um processo que envolve análises diversas, entre as quais a proporcionalidade, para validar que os extratos da sociedade estão igualmente ali representados. Isso é difícil e nenhuma empresa é capaz de fazer sem ajuda externa”, defendeu.

Selo iImpact para startups ESG

Foi nessa linha que Fabian Salum, professor da Fundação Dom Cabral, e Karina Coleta, professora associada da FDC, entenderam a necessidade de referendar as startups de ESG. Eles estão à frente do iImpact, programa desenvolvido em parceria com a Innovation Latam e que confere um Selo para as startups de ESG. “Percebemos que as startups estão mudando o foco, antes voltado ao investidor e agora caminhando para o impacto positivo. Então desenvolvemos a metodologia para promover a associação do ESG com essas empresas, usando como base os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU”, explicou Fabian. 

O Selo iImpact foi criado em 2020, abrangendo inicialmente as Américas Central e do Sul, mas hoje já planeja expandir para a adesão de startups da América do Norte e de outros mercados. “Empresas de 12 países já receberam o Selo, mas tivemos inscritos de praticamente toda a região da América Latina e Caribe, além de recebermos consultas de de outros países, como Austrália, Holanda e outros da Europa”, disse Fabian. 

O iImpact conta com 85 embaixadores, geralmente sócios ou alto executivos de grandes organizações em vários locais do mundo. Cada startup é avaliada por quatro ou mais deles, que seguem critérios pré-estabelecidos.

O Selo é conferido após três etapas-macro de avaliação, sendo a primeira com informações autodeclaradas pelas startups. A segunda etapa é bidirecional, envolvendo a demonstração de resultados que já foram evidenciados, caso de notícias na imprensa, publicação de pesquisas e estudos, etc. “A terceira e última é a avaliação dos jurados, dando o veredito para a concessão do Selo. Esse processo ocorre entre abril e novembro de cada ano e, em 2021, tivemos 555 inscritos”, explicou o professor da FDC. Dessas, 78 obtiveram o Selo, o que, para Fabian, mostra a qualidade do processo de seleção.

Entre o perfil das participantes, as startups de negócios B2B foram as mais representativas, com 37,2% do volume total de inscritos. Negócios B2B2C foram os segundos mais inscritos (29,5%) e os B2C vieram na terceira posição, com 18%.

A metodologia do selo Impact envolve também análise da maturidade das startups, além de mapear as suas principais dores. Nesse último aspecto, ele revela que a falta de investimento é a maior queixa, citada por 83% dos inscritos no selo Impact em 2021. Obter cliente e capturar tecnologia foram as duas outras dores apontadas com destaque, sendo citadas por 45% e 38% dos inscritos, respectivamente.

Para 2022, a expectativa de Fabian Salum é que mais de 700 startups se inscrevam no programa, fomentando a inovação e mostrando que ela está ligada, mais do que nunca, ao impacto positivo.




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