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Expo Favela evidencia essência empreendedora das comunidades

Primeira edição da Expo Favela revela que a grande maioria dos moradores das comunidades brasileiras é empreendedora e carece de acesso ao crédito e às demais ferramentas formais de crescimento

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por Redação maio 5, 2022
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Juntas, as 13.151 favelas brasileiras formariam um país maior que Portugal ou Romênia, ou quase do tamanho do Chile, em quantidade de habitantes. Segundo o Data Favela, há mais de 17 milhões de pessoas vivendo nesses locais atualmente e, pela primeira vez, elas foram demonstradas organizadamente como uma “nação empreendedora”, já que a grande maioria dos adultos (76%) moradores de favelas brasileiras já teve, quer ter ou já tem um negócio. 

O empreendedorismo foi o tema da primeira edição da Expo Favela, um evento realizado em abril e que tomou três andares do complexo de negócios Word Trade Center, em São Paulo. Ao todo, foram mais de 350 expositores e a organização contabilizou que 31 mil visitantes passaram para vê-los durante os três dias do evento.

Segundo Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (Cufa), CEO da Favela Holding e idealizador da Expo Favela, o movimento tem como objetivo a ressignificação da favela e das pessoas, tanto as que estão na favela quanto as do asfalto. “As favelas produzem R$ 120 bilhões por ano no Brasil. Ela produz e consome e o mercado precisa olhar para isso como oportunidades de negócios”, disse ele em reportagem da TV Globonews.

Athayde tratou ainda da necessidade de investimento e qualificação desses empreendedores, motivo pelo qual a Cufa e a Fundação Dom Cabral firmaram parceria no desenvolvimento da “Escola de Negócios de Favela”, cuja ideia é justamente potencializar empreendedores da base da pirâmide.

“Tivemos 20 mil empreendedores inscritos e fomos selecionando até chegar aos 350 que expuseram na Expo Favela. São empresas das áreas de economia, tecnologia, startups e outras que reúnem um mix de empreendedorismo capaz de se comunicar com várias vertentes da sociedade”, destacou.

Os expositores selecionados, além de apresentarem os seus negócios durante a feira, participaram de um outro processo seletivo, do qual houve dez vencedores que participam do Reality Show Expo Favela – O Desafio, em veiculação no Programa É de Casa, da Rede Globo de Televisão. O vencedor dessa etapa receberá a premiação de R$ 80 mil para investir no próprio negócio.

“Em palavras da Cufa, foi evidenciado que, “se era para fazer parceria com uma escola de negócios, que fosse a melhor da América Latina”. Nós da Fundação Dom Cabral estamos muito felizes com essa posição para a parceria, na qual esses dez primeiros empreendedores formarão a primeira turma da Escola de Negócios de Favela”, diz Ana Carolina Santos de Almeida, líder do Movimento Pra>frente, da Fundação Dom Cabral.

Em um artigo publicado pela Exame, Athayde destacou que “a Escola de Negócios de Favela conta com tecnologias e inteligência modernas, capazes de oferecer e permitir trilhas para esses empreendedores e empreendedoras, que não tinham acesso a essas ferramentas, para além de um fluxo de caixa”.

Renato Meirelles, fundador do Instituto Locomotiva e do Data Favela, pontuou que “os moradores de favelas, em vez de lamentar a falta de políticas públicas e o estigmatismo histórico que vem do asfalto, estão empreendendo”. Em detalhes, a pesquisa do Data Favela, liderada por ele, mostra que, dos 76% que têm, tinham ou querem ter um negócio, metade já se classifica como empreendedor. Isto equivale a mais de 6,4 milhões de pessoas.

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“O estado não está na favela”

Focando nos negócios que perduraram ou já aconteceram, ou seja, naqueles que estão de pé hoje em dia, 41% dos moradores adultos das favelas têm um negócio ativo. Entre eles, a informalidade é um dos problemas diagnosticados, pois  apenas 37% têm CNPJ. 

“O estado não está na favela. Para você conseguir um CNPJ, você tem que sair da favela. Você tem que enfrentar, por maior que tenha sido o modelo do Simples, uma série de dificuldades com documentos. Quando você abre um negócio, a primeira coisa que você encontra não é uma oportunidade de crédito. A primeira coisa que você encontra é um fiscal na sua porta”, disse Meirelles em publicação da Agência Brasil.

O relato é para defender que a maior dificuldade encontrada por quem pretende abrir um negócio na favela é a falta de investimento. “A pesquisa deixou claro que falta financiamento, falta grana, falta crédito. Os bancos hoje não oferecem crédito de acordo com a necessidade da favela. Também falta conhecimento de como conseguir expandir o seu negócio através da tecnologia, por mais que nove, em cada dez moradores da favela, tenham acesso à internet atualmente”, destacou Meirelles.

Já Celso Athayde, que vem defendendo a ideia há alguns meses, chegou a publicar, na edição de dezembro de 2021 de sua coluna na Exame, que “não tem dúvida de que a favela produzirá uma empresa unicórnio”.

Vai surgir um unicórnio

A visão dele não é isolada. Em novembro passado, uma reportagem do jornal El País mostrou que uma startup de Paraisópolis (SP) já vinha atraindo políticos e investidores: a Favela Brasil Xpress captou cerca de R$ 1,3 milhão com uma espécie de vaquinha virtual com potencial de retorno financeiro aos doadores. A empresa foi listada na Bolsa de Valores (B3) e é uma das cotadas a se tornar unicórnio ao estar criando “CEP” para a favela.

Em suma, a Favela Brasil Express está resolvendo um problema antigo: de oito, a cada dez territórios de comunidades de São Paulo, quando se compra pela internet a entrega não chega às casas das pessoas, elas ficam em um centro de distribuição. O que a startup fez foi criar uma uma estrutura de entregas, formada em sua maioria por moradores da região, para que as compras cheguem ao destino final.

A reportagem do El País, demonstra que, em seis meses, foram feitas 170 mil entregas, o que girou cerca de R$ 40 milhões em oito territórios de favelas em São Paulo.




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