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Cinco pontos de atenção para entender a crise hídrica

Crise hídrica é maior em 90 anos e precisa ser combatida com planejamento e novas fontes de geração

crise hídrica © - Shutterstock
por Redação outubro 17, 2021
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A possibilidade de o Brasil decretar algum tipo de racionamento de energia não está sendo descartada pelos especialistas. O problema está na maior crise hídrica que o país enfrenta em quase 100 anos. Nesse pequeno guia, mostramos os porquês dessa ameaça e o que pode ser feito agora – e nos anos futuros – para evitar a repetição do problema. 

O que é a crise hídrica

Embora tenha uma matriz de geração energética majoritariamente limpa, 65% das fontes de energia elétrica do Brasil são as usinas hidrelétricas. E, para gerar energia, a maior parte dessas usinas depende de reservatórios. Os reservatórios, por sua vez, precisam de chuva para manter-se dentro dos níveis desejáveis. E aqui é que acontece o problema. O Brasil vive o oitavo ano consecutivo onde a estação chuvosa está abaixo da média. A escassez de chuvas para a geração de energia é, inclusive, a maior em 91 anos, segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), órgão que coordena, controla e planeja as instalações de geração e transmissão de energia no país . Segundo a Agência Brasil, os dados oficiais mostram que o período de setembro de 2020 a abril de 2021 registrou o menor volume histórico de água nos reservatórios das hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que representam 70% da capacidade de armazenamento do país.

Reação do governo diante da crise

Preocupado com o baixo volume nos reservatórios das hidrelétricas do país, o governo federal montou uma sala de situação sobre condições hidrológicas e gestão energética para tratar do problema. Em maio deste ano aconteceu a primeira reunião da equipe, na qual foram debatidas ações para preservar o volume dos reservatórios sem prejudicar o abastecimento de energia no país. O grupo foi criado após alerta do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e de outros órgãos ligados ao Ministério de Minas e Energia (MME). 

Entre as ações está o acionamento das termelétricas, ou seja, será necessário produzir energia de fontes que não dependem de reservatórios. A boa notícia é que elas existem. A má, evidentemente, é que se trata de uma matriz mais poluente e cara. Isso porque, com a falta de água, é preciso concentrar a produção em usinas termelétricas para atender à demanda do país. 

E o uso da fonte termelétrica já bateu o recorde de utilização de 2002. Em reportagem do G1, o Ministério de Minas e Energia pontuou que o acionamento de termelétricas resultará em um custo de R$ 9 bilhões ao consumidor em 2021, que deverá ser repassado no ano que vem, com um aumento de 5% no total da tarifa de luz.

Racionamento de energia 

Informações da Agência Brasil indicam que o Ministério de Minas e Energia não acredita que o Brasil sofra um apagão em 2021, mas pode haver medidas de racionamento de energia . O portal G1, por sua vez, avaliou que pode ser editada uma medida provisória que concentre poderes para adotar medidas de racionamento. 

O processo pode envolver ainda a identificação de setores que consomem muita energia elétrica, incentivando a mudança da produção industrial para horários fora do pico de consumo, que ocorre entre 18h e 21h. É nessa janela de tempo que pode haver o risco de sobrecarga no sistema de fornecimento de energia. A proposta seria que as indústrias eletrointensivas reduzissem sua produção nesse intervalo. 

O ministro, que diz não haver a possibilidade de racionamento, afirmou que a “condição hidroenergética se agravou” e pediu aos consumidores que reduzam o desperdício de energia por meio de ações como, por exemplo, apagar as luzes e aparelhos que não estão em uso. 

Segundo o ministro do MME, Bento Albuquerque, não haveria o perigo de racionamento, mas “para aumentar a segurança energética e afastar o risco de falta de energia no horário de maior consumo é necessário que a administração e o consumidor participem de um esforço inadiável de redução do consumo”. Ele se pronunciou oficialmente no começo de setembro e reconheceu o agravamento da crise.

Crise vai além da energia

O problema da baixa dos reservatórios não afeta somente a geração de energia. Conforme artigo publicado na revista Exame pelo presidente da Cosan, Luís Henrique Guimarães, a operação da Hidrovia Tietê Paraná está ameaçada. Ele lembra que esse corredor fluvial corre o risco de ser paralisado a partir de julho. Em 2014, quando aconteceu outra crise hídrica de proporções similares à atual, a Hidrovia iniciou um período de paralisação de 16 meses. 

Guimarães também chama a atenção para os efeitos sobre os agronegócios. “A seca já produz certos estragos no campo, e alguns produtores temem que a disputa por água com o setor elétrico prejudique os seus resultados”, disse ele no artigo citado. E a falta de água pode ter efeitos danosos sobre o agronegócio, o setor que mais cresceu no primeiro trimestre de 2021 e que deve liderar a retomada econômica até o próximo ano.

Mais planejamento para reduzir a crise

Guimarães também destaca uma questão que passa pela cabeça de muita gente. Se as crises hídricas não são um acidente de percurso, por que não antecipar medidas que podem reduzir os efeitos delas? “Mais de 60% da nossa matriz elétrica é de geração hidrelétrica, e vem chovendo menos no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, onde está mais de 50% da carga elétrica”, destacou o executivo. E o problema é ainda maior: por exigências ambientais, as novas usinas hidrelétricas têm adotado um modelo de geração a fio d’água, ou seja, sem a necessidade de construção de reservatórios. 

Para ele, o balanço entre fontes tradicionais – hidrelétricas – com novas matrizes, caso da energia eólica e solar, além da biomassa, podem ajudar no planejamento. Ele destaca as usinas de biomassa, que pouparam 15 pontos percentuais do nível dos reservatórios das hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, de acordo com estudo da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) e da Cogen (Associação da Indústria da Cogeração de Energia) somente em 2020. A fonte fotovoltaica, por sua vez, representa mais de 5,5 GW de potência instalada segundo Guimarães. 

A geração eólica e até o gás natural podem entrar no novo balanço, mas nesse último caso, de novo, o planejamento aparece como gargalo, pois os investimentos na malha de gasodutos de transporte não foram feitos e o país continua com os mesmos 9.500 km que já possuía em 2009.




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