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Brasil ocupa a 59ª posição em competitividade

Brasil apresenta queda e está em 59º entre 63 economias no mundo no quesito competitividade, segundo o IMD World Competitiveness Ranking

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por Redação junho 21, 2022
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O Brasil perdeu duas colocações e voltou a ocupar a 59ª posição em competitividade mundial segundo o mais recente IMD World Competitiveness Ranking, elaborado pela escola de educação executiva IMD, da Suíça. Com o resultado, o país permanece entre as nações menos competitivas no mundo. Nesta edição, estamos à frente apenas da África do Sul, Mongólia, Argentina e Venezuela. A queda de posições acontece num cenário econômico e político turbulento no mundo. Para os pesquisadores Carlos Arruda, Hugo Tadeu e Miguel Costa, da Fundação Dom Cabral (FDC), os dados do ranking mostram que o Brasil tem “uma longa trajetória para se tornar uma economia mais competitiva”.

Parceira da IMD no Brasil para a realização do anuário em que se baseia o ranking, a FDC é a responsável local pela distribuição da pesquisa qualitativa e coleta dos dados de fontes nacionais. Até mesmo em função disso, a Fundação costuma analisar os detalhes do desempenho brasileiro. Para os três pesquisadores citados acima, desde 2011, o Brasil vem demonstrando uma tendência de queda no ranking, com ligeira melhora no período entre 2018 e 2020.

Empresas apontam ambiente favorável a negócios

De acordo com o trio de pesquisadores, os principais fatores-chave da economia brasileira apontados pela comunidade empresarial na pesquisa qualitativa são: o dinamismo da economia, a abertura e atitudes positivas e ambiente favorável ao negócio. Entre os 15 indicadores apresentados, os menos escolhidos foram: competência do governo, nível educacional e ambiente jurídico eficaz.

Em linhas gerais, os componentes com melhores avanços foram o crescimento real do PIB e o crescimento real da formação bruta de capital físico. Por outro lado, os piores desempenhos se concentram na inflação dos preços ao consumidor e no saldo na balança de pagamentos. É importante lembrar que o ranking da IMD é elaborado a partir de quatro pilares ou fatores, divididos em 20 subfatores que, por sua vez, são desdobrados em 333 critérios.

Os quatro pilares são: desempenho da economia, eficiência do governo, eficiência dos negócios e infraestrutura. O desempenho do Brasil no ranking é avaliado em detalhes em cada um deles abaixo:

Desempenho da economia

Nesse pilar o Brasil atingiu a 48ª colocação, um avanço de três posições em relação à última edição do anuário do IMD. Isso se explica pela melhora relativa dos subfatores de Comércio Internacional, Investimento Estrangeiro e Emprego. Por outro lado, houve queda no subfator Economia Doméstica.           

Em relação à Economia Doméstica, o País conta a seu favor um grande mercado, obtendo o 12º maior PIB do mundo no ano de 2021. Contudo, ao analisar o PIB per capita, o Brasil encontra-se na 53º colocação (U$ 7.543), atrás da média mundial de U$ 34.279. Isso demonstra uma baixa produtividade e competitividade da economia brasileira frente ao descompasso entre tamanho de mercado e produção interna em valores monetários.

Os resultados da balança comercial brasileira são considerados no subfator Comércio Internacional. A exportação de bens é um destaque positivo (23º) no valor de U$ 280,82 bilhões em 2021. A situação da balança comercial, que contabiliza a diferença entre exportações e importações, também é relativamente confortável, com superávit de U$ 61.406 bilhões. Todavia, quando se observa o valor em proporção do PIB, o país se enquadra na 54ª colocação. Outros indicadores avaliados em Comércio Internacional é o de receitas com turismo (60º), um dos destaques negativos brasileiros.

No que se refere ao Investimento Estrangeiro, as taxas de poupança (52º) e formação bruta de capital fixo em porcentagem do PIB (51º) indicam investimentos insuficientes para apoiar a ampliação da capacidade produtiva do país. Já o subfator Preços, a atual alta não é exclusividade do Brasil. As pressões inflacionárias derivam de choques de oferta que atingiram todo o mundo.

Eficiência do Governo

A avaliação sobre a Eficiência do Governo se manteve praticamente estável, com avanço de uma colocação (de 62º em 2021 para 61º em 2022): o País tem bons resultados quanto ao componente de subsídios governamentais (3º), mas o ambiente jurídico, barreiras tarifárias e índices de pobreza são desafios históricos que ainda estão distantes de serem solucionados.

As finanças públicas apresentaram um certo “alívio” se comparado aos resultados de 2020. Nesse âmbito, nota-se um reflexo dos efeitos da política do Teto dos Gastos Públicos, além das reduções de gastos com o combate à pandemia e da recuperação significativa das receitas em função da retomada de atividades econômicas e elevação de preços, o que naturalmente eleva a arrecadação em determinado grau. As contas do Governo Geral continuam em déficit, representando 80,3% do PIB, pior taxa entre os países avaliados no estudo.

No geral, em termos comparativos, o Brasil permanece estagnado na última colocação de Finanças Públicas (63º). Em Política Tributária (43º), a queda de três colocações vem principalmente pelo avanço de alguns países, enquanto o Brasil não apresentou mudanças significativas. Um ponto de destaque negativo para o lado das receitas é a redução da coleta de impostos corporativos recolhidos sobre lucros, rendimentos e ganhos de capital, em porcentagem do PIB.

Apesar das ações e compromissos da Secretaria Especial de Modernização do Estado com revisão do marco legal e procedimentos administrativos a Legislação Empresarial (58º) continua sendo um grande entrave do Brasil em rankings internacionais de ambiente de negócios. Já a última colocação do Brasil em Estrutura Social (63º) traduz as altas taxas de homicídio per capita e a baixa percepção do empresariado de que a justiça é bem administrada. 

Eficiência dos Negócios

A Eficiência dos Negócios foi o fator de maior queda na edição de 2022 para o Brasil (de 49º para 52º), apesar de melhora significativa em Mercado de Trabalho (de 51º para 45º), principalmente em função do avanço na taxa de crescimento de longo-prazo da força de trabalho.

O país segue enfrentando obstáculos em aspectos de sua produtividade em todos os setores da economia, principalmente em serviços. A produtividade da força de trabalho também segue sendo umas das menores se comparada com padrões internacionais. A disponibilidade de mão-de-obra qualificada e a atração e retenção de talentos indicam que o Brasil tem uma longa trajetória para consolidar uma força de trabalho mais produtiva e qualificada.

Em Finanças, a percepção do empresariado é de que as dívidas corporativas e a dificuldade no acesso ao capital de risco impedem habilidades de uma empresa em competir. Apesar disso, há bons resultados na oferta pública inicial (6º), processo em que uma empresa inicial oferta de ações no mercado, tornando-se uma companhia de capital aberto.

No âmbito das práticas de gestão, houve piora na percepção dos executivos em quase todos os indicadores. A efetividade da supervisão dos conselhos corporativos, a adequação de práticas de auditoria e contabilidade e o uso de Big Data para tomada de decisões das empresas  tiveram avaliações inferiores em relação à última pesquisa de opinião. No que tange a esse último componente, a visão dos executivos é crítica, pois o uso de Big Data é um pilar importante no processo de transformação digital e práticas de inovação que tornam as empresas mais adaptadas aos novos desafios que se impõe diante das rápidas mudanças tecnológicas.

Um destaque positivo nesse fator é de que o Brasil segue na 12ª colocação na proporção de mulheres em cargos de gerência sênior e média, representando 38,61% do total, embora a quantidade de mulheres nos conselhos administrativos esteja distante do ideal, na 40ª posição.

Infraestrutura

A análise da Infraestrutura fornece um panorama de fatores cruciais na eficiência das atividades e no desenvolvimento econômico de um país. Neste ano, houve queda de uma posição em relação ao último anuário (de 52º para 53º). A colocação brasileira representa uma análise geral do Brasil, país de tamanho continental e que apresenta desigualdades regionais. Na América Latina, o País é o segundo na avaliação, após o Chile.

Com avaliação negativa das pesquisas em relação à qualidade e distribuição de infraestruturas de maneira eficiente (60º), o fator Infraestrutura sofreu queda de uma posição em relação ao último anuário, se enquadrando em 53º. Contudo, o país apresenta bons resultados em alguns componentes, com destaques para seu tamanho de mercado (5º), número de passageiros que utilizam o transporte aéreo (6º) e extração de energia de recursos naturais (8º).

No subfator de Infraestrutura tecnológica, o país se manteve estável em 55º. Os indicadores visam avaliar o acesso da população e instituições às tecnologias, responsável por proporcionar maior agilidade nos processos cotidianos e aumento de competitividades e produtividade às empresas. O resultado é positivo quando se analisa os investimentos em telecomunicações acima da média mundial na 12ª posição e o custo de telefonia móvel (6º).

Os componentes com piores performances são a percepção do empresariado de que as habilidades digitais e tecnológicas e o financiamento para o desenvolvimento tecnológico estão prontamente disponíveis, em 60º e 59º lugar, respectivamente.

Em relação à infraestrutura científica, a quantidade de artigos publicados (10º) é um destaque positivo. Contudo, o número de patentes nacional está bem abaixo da média mundial, 7.271 frente a 52.962. O país segue entre os 20 que mais investem em Pesquisa e Desenvolvimento (14º), mas cai para 43º em termos per capita. O número de graduados na área de ciência e tecnologia permanece baixo.

O Brasil tem boas avaliações em Saúde e Meio Ambiente, todavia o déficit no crescimento de área de floresta (55º) chama atenção para os avanços no desmatamento. No subfator Educação, o Brasil permanece na última colocação geral. Com o retorno às aulas, os gastos públicos em educação alcançaram o sétimo lugar no ranking geral, um ganho de 5 posições em comparação com dados da última edição.

O problema na educação afeta diretamente no desenvolvimento econômico. As transformações atuais do mercado passam a exigir cada vez mais habilidades que demandam maiores níveis educacionais e competências. O cancelamento das aulas em 2020 fez do Brasil um dos países que por mais tempo permaneceu com escolas totalmente fechadas segundo levantamento da Unesco. Segundo os especialistas, os efeitos da pandemia na educação ainda vão persistir por um tempo, prejudicando a já insuficiente qualidade da educação brasileira.




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